Dor não é normal: como identificar a endometriose como causa da dor pélvica crônica
- julianamnovaes
- 9 de mai. de 2023
- 4 min de leitura
Você já deve ter ouvido que ter dor e cólicas é normal quando se é mulher, mesmo que estas dores não melhorem com analgésicos comuns e deixam você durante o dia todo na cama. Será que ter dor pélvica e cólicas menstruais intensas é algo inerente à mulher, e que nós, mulheres, devemos nos acostumar com esta condição? Se você chegou aqui, deve saber a minha resposta: ter dor pélvica crônica não é normal,
E o que fazer quando isso acontece? Primeiramente, você precisa de um ou uma médica ginecologista que esteja disposto a cuidar de você como um todo.. Que escute suas queixas atentamente e faça um exame físico completo para então começar a investigação.
Na pelve feminina existem diversos órgãos e estruturas e a causa da dor pode estar associada à qualquer uma delas, às vezes mais de uma. Sendo assim, para chegarmos em uma conclusão devemos investigar minuciosamente estes órgãos e estruturas que incluem: bexiga, ureteres, intestino, útero, trompas, ovários, vagina, peritônio, coluna vertebral, ligamentos, músculos, nervos e vasos sanguíneos.
Começando pela bexiga, uma causa comum de dor pélvica crônica são as cistites (inflamações da bexiga), causadas na maioria das vezes por algum micro-organismo, levando à uma infecção urinária. Quando solicitamos um exame de urina simples e uma cultura de urina, podemos avaliar se esta é uma possível causa da dor. Quando se trata de uma infecção urinária crônica, pode ser que não haja os sintomas mais clássicos como ardência ao urinar. A infecção pode ser mais grave e atingir os rins, ou seja, uma pielonefrite, e assim causar fortes dores lombares e pélvicas, associada à febre, mas não obrigatoriamente.
Cálculos ureterais e renais também devem ser investigados. O ureter é a estrutura que leva a urina formada no rim até a bexiga. Pode ser que haja algum cálculo neste caminho, causando dor lombar, dor pélvica e até dores em pontadas na vagina e grandes lábios da vulva.
Uma das causas mais recorrentes de dor lombar e pélvica é a causa neuromuscular. Muitas vezes o nervo isquiático (ou ciático) pode estar acometido. Este nervo surge entre as vértebras lombares, passa pela região dos glúteos e por toda a perna, até chegar ao dedão do pé. Já o nervo pudendo é outra estrutura que quando acometida causa dor: ele é responsável pela inervação de músculos da pelve e pela inervação do períneo. Osteoartrose (bico de papagaio e outras deformações na coluna), ou alguma hérnia de disco podem comprimir estes nervos, levando à um quadro de dor.
Constipação intestinal, síndrome do intestino irritável, doenças inflamatórias do intestino devem ser sempre lembradas e investigadas quando abordamos a dor pélvica crônica. Por isso, seu ou sua ginecologista deve te perguntar sobre seu hábito intestinal e pedir exames complementares como a colonoscopia, se necessário.
Por fim, vamos falar sobre os órgãos genitais: as trompas uterinas, útero e ovários. Várias são as causas de dor nestas estruturas: doença inflamatória pélvica causada por infecções sexualmente transmissíveis, ou não. Cistos e tumores ovarianos, gestação ectópica, miomas, adenomiose e a endometriose, motivo deste artigo.
Me prolonguei para chegar à endometriose como causa da dor pélvica propositalmente para você perceber como há tantas outras patologias que devem ser investigadas pelo seu ginecologista para que o diagnóstico correto seja feito!
A endometriose é uma condição médica que afeta as mulheres e ocorre quando o tecido semelhante ao revestimento do útero, conhecido como endométrio, cresce fora da cavidade uterina. Esse tecido pode se desenvolver em outras partes do corpo, como nos ovários, nas trompas uterinas e também na bexiga, no intestino, e até mesmo na pele.
A causa exata da endometriose ainda é desconhecida, mas os especialistas acreditam que há vários fatores que podem contribuir para o seu desenvolvimento. Uma teoria é que o tecido endometrial pode se espalhar para outras áreas do corpo por meio do fluxo menstrual retrógrado, ou seja, quando o sangue menstrual flui para trás e chega na cavidade abdominal através das trompas uterinas, ao em vez de sair do corpo durante a menstruação. Outros fatores de risco incluem histórico familiar de endometriose, ciclos menstruais curtos, menstruação precoce e menopausa tardia.
Os sintomas da endometriose variam de leves a graves e podem incluir dor pélvica intensa, cólicas menstruais, dor durante a relação sexual, sangramento menstrual excessivo, dor ao urinar ou defecar, fadiga e infertilidade. No entanto, algumas mulheres podem ter endometriose e não apresentar sintomas.
Como já discutimos, o diagnóstico da endometriose pode ser difícil, pois os sintomas podem ser semelhantes aos de outras condições médicas. Seu ou sua ginecologista pode solicitar exames de imagem, como ressonância com contraste da pelve e a ultrassonografia (atenção: não se trata de uma ultrassonografia comum, mas uma especializada em procurar por endometriose. Muitas vezes, a ultrassonografia comum não visualiza os focos da doença), ou realizar uma laparoscopia, um procedimento cirúrgico em que um pequeno tubo com uma câmera é inserido no abdômen para examinar os órgãos internos.
O tratamento da endometriose pode incluir medicações para aliviar a dor, terapia hormonal para controlar o crescimento do tecido endometrial, cirurgia para remover o tecido afetado ou, em casos graves, a remoção completa do útero e dos ovários. O tratamento escolhido dependerá da gravidade dos sintomas, da idade da paciente e de seus planos futuros de ter filhos. O dispositivo intra uterino liberador de levonorgestrel (DIU Mirena) também pode funcionar como tratamento, já que o hormônio liberado pelo DIU mantém a camada de endométrio bem fina.
Em resumo, a endometriose é uma condição que afeta muitas mulheres e pode ter um grande impacto na qualidade de vida. Se você apresenta dor pélvica crônica é importante consultar um ou uma ginecologista para obter um diagnóstico preciso e um tratamento adequado.
Caso tenha alguma dúvida, deixe nos comentários!





Comentários